Ferrão, em seu trabalho "Homossexualidade e defesas maníacas", salienta a importância de mecanismos de defesa maníacos nos psicodinamismos do homossexualismo.
Mas vamos às primeiras discussões abordadas pelo presente estudo; elas datam por volta de 1908, quando Freud discutiu, com alguns psicanalistas da época, especialmente Ferenczi e Jung, a relação íntima que invariavelmente, sentia existir entre paranóia e homossexualismo latente; desde então, diversos artigos sobre paranóia apareceram na literatura psicanalítica. Em seu texto de 1911, "Observações psicanalíticas sobre um caso de paranóia autobiograficamente descrito", Freud estabelece sua fórmula sobre a paranóia, sendo considerada como uma defesa contra impulsos homossexuais reprimidos. A seguir, em "Três ensaios sobre a sexualidade", o homossexualismo assume o caráter de um "comportamento invertido", e que varia grandemente sob diversos aspectos. Pode ser o invertido absoluto, no qual se estabelece a escolha do objeto sexual exclusivamente a partir de seu próprio sexo (essa escolha decorre de uma origem narcísica). Podem haver também os invertidos anfigênicos, ou seja, os hermafroditas psicossexuais; nesse caso seus objetos sexuais tanto podem ser do mesmo sexo como do sexo oposto, não possuindo a característica da exclusividade. Existem também os invertidos ocasionais, os expostos às influências de certas condições exteriores, como por exemplo, os presidiários, que na falta do objeto sexual normal (termo utilizado por Freud), obtém prazer com o objeto do mesmo sexo.
Para Freud, o comportamento invertido tanto pode datar do princípio da existência do indivíduo, de uma época tão remota quanto a sua memória possa alcançar, como também pode se manifestar um pouco antes ou depois da puberdade. Pode persistir por toda a vida ou desaparecer temporariamente, ou pode ainda constituir um episódio isolado no processo de um desenvolvimento normal. Pode até surgir pela primeira vez tarde na vida, depois de um longo período de atividade sexual normal, ou depois de o indivíduo ter passado por uma experiência penosa com o objeto do sexo oposto.
Quanto à natureza da inversão, Freud pondera que não ela pode ser explicada nem pela hipótese de que é congênita, nem pela hipótese de que é adquirida, mas que pode estar relacionada com uma disposição bissexual e que se constitui um distúrbio que afeta o instinto sexual no curso de seu desenvolvimento.
Também considera que, sem dúvida, os invertidos, nos primeiros anos de sua infância, atravessaram uma fase de fixação muito intensa porém muito curta, em uma mulher (geralmente sua mãe); e, depois de ultrapassada esta fase, eles se identificam com uma mulher e se consideram, a si próprios, seu objeto sexual. Isto é, partem de uma escolha narcísica, procuram um rapaz que se pareça com eles próprios e a quem possam amar como amaram e foram amados por sua mãe.
Posteriormente, as investigações de Melanie Klein e dos adeptos de suas idéias demonstraram a importância das situações precoces de ansiedade no desenvolvimento normal e patológico da criança e do adulto. Klein apresentou as duas conhecidas posições: a esquizo-paranóide e a depressiva e, em 1932, postulou que a homossexualidade se desenvolve como uma defesa contra a angústia paranóide, o que pode explicar a frequência da combinação do homossexualismo com idéias paranóides. A ênfase que M. Klein dá está na função defensiva do homossexualismo, que pode surgir na sua forma latente ou manifesta, pelo aumento das ansiedades paranóides. Em seu livro "Psicanálise da criança", Klein menciona que as perturbações do desenvolvimento sexual se seguem a uma fantasia infantil, onde existe o registro da figura dos pais perpetuamente unidos em coito (pais combinados na relação sexual). Se a devida separação dessa imago combinada dos pais não ocorrer em grau suficiente (pai plenamente diferenciado da mãe) durante o curso do desenvolvimento, o indivíduo sofrerá de graves perturbações em seu relacionamento objetal como em sua vida sexual. Ou seja, se houver a predominância dessa cena primária, ocorrerão perturbações na criança: primeiro nas relações primitivas que esta estabelece com o seio da mãe, e posteriormente com o seu objeto de desejo.
Essas perturbações aparecem nos ataques sádicos da criança para com o seio da mãe (objeto nutridor). Seus fortes impulsos orais farão com que rejeitem com ódio o seio dela. Essas tendências, que chamamos de destrutivas, vão dar origem à idéia de seio mau, ou mãe má e perseguidora.
Haverá, por conseguinte, um movimento brusco de abandono da mãe, seguido de introjeção da figura do pênis do pai (como objeto idealizado), utilizada para negar a existência do perseguidor. Esse sentimento de ódio e destruição acompanhará a criança, pois trata-se de uma percepção a respeito de sua mãe, e não necessariamente de uma verdade sobre ela (a maneira como a criança introjeta a figura da mãe - boa ou má - não corresponde a uma mãe real). A identificação com o pai se dará com base nesses sentimentos destrutivos, e o ódio se tornará ainda maior se a criança não for acolhida por ele. Sobrepõem-se, então, ao ódio e raiva sentidos pela imagem introjetada da mãe, o ódio e a angústia sentidos pela figura do pai, objeto de amor que desilude, rival da situação edípica e portador de toda a maldade a agressividades projetadas .
Seguindo esse raciocínio teórico contemplado por Klein, a tendência homossexual se instala pela falta de uma boa imago materna. É um processo de deslocamento, no qual tudo que é terrível e inquietante está situado no interior do corpo da mulher, da qual o indivíduo vai se aproximar, buscando uma atitude apaziguadora, ou se afastar, podendo estabeler assim uma preferência homossexual, no fundo sempre indo atrás do que lhe falta: a boa imago materna. Todos esse fatores cumulativos presentes ao longo do desenvolvimento da criança podem fazer com que ela se afaste de seu primeiro objeto de desejo (mãe) e, segundo o caráter de suas primeiras experiências, podem perturbar gravemente sua potência heterossexual ou levá-la a se tornar homossexual. Fica claro, então, que a relação primária com a mãe é fundamental para o organização psíquica do feminino e masculino.
H. Rosenfeld, em 1949, em trabalho publicado sobre o assunto, relatou que o homossexualismo pode ser usada pelo sistema de defesa maníaco e também mencionou a importância dos mecanismos de projeção - e especialmente da identificação projetiva - em alguns casos do homossexualismo.
Destacaremos três características do homossexual, decorrentes do caráter sádico de seu superego extremamente rígido, conforme acentua Franco Filho:
1. A falsa sensualidade do homossexual
A pretensa sensualidade desses indivíduos não lhes propicia um prazer proporcionalmente correspondente, por conta da fragilidade dos vínculos que conseguem estabelecer com as pessoas, as depressões frequentes que suportam, e um estado comum de frustração por eles mesmos provocados inconscientemente. Comenta Franco Filho que por esse motivo não é possível crer que uma maior permissividade da sociedade em relação ao homossexual venha a fazê-los desfrutar mais livremente de suas ligações amorosas.
2. As atuações e o caráter masoquista
Por força desse superego antilibidinoso, o homossexual vê-se, muitas vezes sob o disfarce de uma procura de prazer, inclinado a condutas nitidamente auto-destrutivas.
3. O parceiro como um perseguidor
Na ausência de defesas pode haver um processo de idealização do objeto perseguidor e, como consequência, o que é temido passa a ser procurado como bom. Dessa forma, o perseguidor se transforma em parceiro, que é procurado. Isso explica a submissão passiva de muitos homossexuais. Essa submissão tem a finalidade de seduzir e aplacar o objeto, controlando-o e assim tornando-o menos perigoso. É evidente que isso acarreta um aumento das atitudes masoquistas, levando ao dano que o próprio indivíduo a princípio queria evitar.
Diante das observacões feitas, pode-se verificar que o homossexualismo toca a fundo uma questão importante que é a da identidade pessoal daquele que se desvia da trajetória comum a todos nós. São pessoas que sofrem perturbações de ordem psíquica e relacional e que, por detrás de toda exuberância de uma pessoa homossexual, hospedam sentimentos de intensa angústia e ansiedades incontroláveis (ou controladas de maneira pouco eficaz, apenas para garantir sua sobrevivência).
Precisamos encontrá-los com o coração e cuidar desse sofrimento que persiste desde a tenra infância, sofrimento esse subjacente ao estereótipo, mas que está acima de qualquer escolha que a pessoa do homossexual venha fazer.
Cabe aos, profissionais da área "psi": o empenho na recuperação dessas imagos, proporcionando a felicidade de vínculos mais saudáveis e estáveis; conter as identificações projetivas e introjetivas destrutivas, na relação transferencial, aliviando suas angústias e ansiedades; e encaminhá-los para uma autêntica comunicação e vida interpessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário