terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A homossexualidade feminina na psicanálise

O desenvolvimento da sexualidade feminina ocorre de forma diferente à dos meninos. Enquanto nos homens, primeiro ocorre o complexo de Édipo e só, então, se faz presente o complexo de castração, com as mulheres ocorre o inverso: a constatação da castração é que desencadeia o complexo de Édipo. A menina, por sua vez, abandonaria o desejo de ter um pênis em substituição ao desejo de ter um filho do seu objeto de amor, isto é, seu pai. Esta necessidade superaria a ferida de sua condição feminina, ao criar, ao lado da equação proposta por Freud, onde o pênis é igual ao falo, uma nova equivalência onde se percebe o filho igual ao falo.

“A ausência de um pênis faz a menina sentir inveja, que, de acordo com a forma como é manejada, determinará a sua identidade. Em excesso, pode levar ao desenvolvimento de qualidades masculinas para o substituir, ou à obtenção de um, através da fantasia. Pode se sentir inferiorizada, ficando passiva e masoquista, confundindo o seu clitóris com um pênis defeituoso, não deslocando o erotismo para a vagina. Se tudo correr bem, no entanto, ela se voltará para o pai e terá o desejo de ter um bebê, orientando-se heterossexualmente.” (AFONSO, 2007, p. 332)

 O mesmo autor (2007) segue com a sua explicação afirmando que, à menina, ainda cabe perdoar o pai por a obrigar a adiar a chegada do bebê e com isso precisa se identificar com a mãe para se tornar, finalmente, feminina. É o complexo de castração que se coloca como o divisor de águas da sexualidade feminina. Neste momento, para a menina cabem três alternativas: abandonar os impulsos sexuais, tornando-se frígida, identificar-se com o pai, provocando a homossexualidade, ou, escolher o pai como objeto de amor, descobrindo a feminilidade.

Assim, de acordo com Vieira, (2009), podemos perceber que, embora Freud tenha traçado três vias possíveis para o confronto das mulheres com sua castração, foi eleita uma única direção para se tornar mulher, a saber, a maternidade. Mais tarde, Freud (1920-1969) publica um artigo sobre a homossexualidade feminina, onde desenvolve a ideia de que a homossexualidade estaria ligada a uma fixação infantil à mãe e uma fortíssima decepção em relação ao pai, aliando-se a isto um complexo de virilidade. (FRAZÃO e ROSÁRIO, 2008, p. 28) Em outras palavras, como quem engravidou foi sua mãe e não ela, a saída deste trauma é virar as costas para o pai e para todos os homens e, pela inveja da conquista da mãe, busca o papel masculino como uma solução para ter o mesmo destino que sua mãe.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Homossexualidade masculina na visão da psicanálise

Em torno dos quatro anos de idade, o menino encontra-se libidinosamente ligado à mãe. O pai intervém nesta relação e se transforma em rival. Depois, deste momento, o menino passa a interiorizar as características masculinas paterna, tanto quanto seu objeto de desejo, as mulheres. Freud explica a homossexualidade masculina como sendo uma saída negativa do complexo de Édipo, ou seja, o pai, sem conseguir impor limite à relação do filho com a mãe, não permite que este se volte para a característica paterna. No lugar disso, interioriza as características femininas da mãe, inclusive o seu objeto de desejo, o homem. A homossexualidade masculina, assim, ocorreria quando o sujeito, ao final do complexo de Édipo e à altura em que deve suprir a mãe por outro objeto de desejo, produz uma inversão, ou seja, o menino passa a afeiçoar-se com a mãe e dirigir-se a objetos que assumiriam o lugar antes ocupado pelo seu próprio eu, sobre os quais, a partir deste momento, ele pode investir o mesmo amor que sua mãe até então investira nele próprio. Freud também explicou a homossexualidade masculina pela aversão aos órgãos genitais femininos, consequência de um complexo de castração intenso demais para ser entendido por completo pelo psiquismo do menino.

 Não podemos esquecer que Freud viveu em uma sociedade extremamente conservadora, em um momento de supervalorização da criação, da produção científica e das fábricas. A conceituação do masculino, altamente valorizado e necessário, nesta época, era a do ativo, do produtor. A teoria freudiana traz consigo o ranço desta época. Uma época em que o corpo humano foi dividido, cartesianamente, em uma dualidade homem-mulher, macho-fêmea. Aqui só havia um sexo, o masculino, sobrando às mulheres, o corpo úmido e incompleto que encontrou, na fragilidade, um empecilho em seu desenvolvimento. Esta teorização levou à reduzida crença de que a homossexualidade masculina significava passividade que, por sua vez, era entendida como feminilidade, ou seja, um trauma. Assim, os homens que são homossexuais passaram a ser negados ao território da masculinidade e reformulados como mulheres falsificadas.

Mais do que isso, lembremos que, para Freud, uma sexualidade sadia é aquela em que os genitais encontram-se a serviço da reprodução, sendo esta a última fase pela qual passa a organização da sexualidade.

 Por meio desta visão, ainda vemos analistas, em seus consultórios, sustentarem o gênero heterossexual como natural, inviabilizando, desta maneira, a apreensão total da natureza e da experiência de gênero. Precisamos ir além de permitir ao paciente a estruturação de um sistema de valores. Nós, os profissionais de saúde mental, precisamos olhar de forma ampla ao desenvolvimento da sexualidade. Isto não significa isolar a necessidade da cultura e suas normas sociais, mas distinguir o normativo do natural, de suma importância em nosso trabalho.



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A estrutura clínica da homossexualidade, segundo a psicanalise

De acordo com Frazão e Rosário (2008), o termo homossexual foi introduzido na literatura científica em 1869, por Karoly María Benkert, em uma tentativa de eliminar ou substituir designações pejorativas para as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. 

Depois de pouco tempo, surgiram os primeiros estudos médicos e psiquiátricos sobre o assunto, cujos pressupostos estavam baseados na procura de um substrato físico ou psíquico que explicasse tal desordem. Apesar disso, tenhamos cuidado, já que muitos dizem que a psicanálise trata a homossexualidade como doença, rodeando este assunto a inúmeros estigmas. Não é isso! Ela é vista como um conjunto de sintomas, de uma defesa maníaca ocorrida pelo ego que se vê diante de uma forte carga de ansiedade de fundo paranoide e, ao mesmo tempo, depressiva. Assim, para Freud havia uma profunda ligação entre a paranoia e a homossexualidade latente. Também é determinante, nesta estrutura, o complexo de castração que amedrontaria o indivíduo em direção às perdas e à ideia de morte.

Ainda que não tenhamos uma equação cartesiana ou um único caminho que responda a homossexualidade, foi hábito de Freud pesquisar as origens psíquicas da homossexualidade com a clara finalidade de construir um caminho que o pudesse levar às origens da sexualidade ‘perversa’. Assim, de acordo com Freud, alguns são fatores determinantes na causa da homossexualidade. Entre eles, podemos destacar a forte ligação com a mãe capaz de impedir a ligação com outra mulher e a fixação na fase narcísica, fazendo com que a pessoa se ligue a seu igual e não em outro sexo. 

Vieira (2009) amplia a nossa visão, comentando sobre teorias posteriores a Freud, quando a perversão deixa de ter caráter unicamente sexual e passa a ser considerada mediante o discurso sobre o gozo. Tal autor nos diz que a homossexualidade pode ser entendida como perversa, no sentido de dizer à autoridade parental, que o sujeito conhece um gozo a que eles não terão acesso. Desta forma, esta perversão não é de ordem moral, é da ordem do desafio à lei, do desafio ao imperativo fálico. É sobre o saber que o perverso imagina ter conhecimento, sobre o gozo perdido com a castração, caso esta tivesse sido aceita. 

 A homossexualidade dentro da psicanálise é entendida como uma defesa maníaca, uma forma do ego de se proteger frente às demandas que geram a angústia e as ansiedades, e que estão acima de qualquer escolha que a pessoa possa ter feito.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

POLÍTICA: Em audiência com ex-gays, deputados defendem tratamento, pessoas que disseram ter deixado a homossexualidade relataram abusos na infância e dificuldade de conseguir ajuda de psicólogos

Em audiência com cinco pessoas que se consideram ex-gays, deputados da bancada evangélica defenderam nesta quarta-feira (24/06/15) a possibilidade de tratamento psicológicos para quem busca “reorientar” a sexualidade. Os convidados relataram abusos na infância e reclamaram da dificuldade de conseguir ajuda profissional para enfrentar os conflitos emocionais.

Solicitada pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), a reunião foi aberta pela psicóloga Marisa Lobo, que já enfrentou um processo de cassação acusada de defender a terapia de reorientação sexual e foi seguida pelos cinco ex-homossexuais, dos quais quatro pastores evangélicos. Em 2013, o deputado João Campos (PSDB-GO), líder da bancada evangélica, chegou a apresentar um projeto para sustar a resolução de 1999 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que proíbe psicólogos de tratar a homossexualidade como doença. Apelidada pela mídia de “cura gay”, a matéria foi arquivada a pedido do próprio parlamentar, depois da polêmica.

Feliciano evitou falar em cura, mas defendeu o tratamento das pessoas por psicólogos. “Não existe cura, porque não é doença. Essas pessoas só querem o direito de serem ouvidas, de serem tratadas por uma coisa que elas não querem ser”, disse. O deputado defendeu que a gravação do debate seja enviada para o País inteiro. “Essa audiência traz fôlego e oxigênio para pais e mães que não sabem o que fazer agora que a homossexualidade virou um modismo.”

Para o vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério de Oliveira Silva, a reunião foi uma estratégia para reacender o debate da cura gay (terapia de reorientação sexual). "O que está colocado aqui é uma estratégia de um grupo de deputados para derrubar a resolução, que trata da forma como nós psicólogos entendemos como o exercício profissional deva ser colocado", disse. Todos os ouvidos na audiência disseram que não nasceram homossexuais e relataram terem sofrido abuso. Eles contaram que não eram felizes como gays e, em sua maioria, disseram ter recebido o apoio de igrejas para reorientar a sexualidade. 

Pastor e cantor evangélico, Robson Alves disse ter sido homossexual dos 13 aos 21 anos de idade, depois de ser estuprado por um homem na infância. “A pessoa que quer deixar de ser homossexual, ela pode deixar. Nunca fui gay, fui levado para a prática homossexual por esse trauma. A quem pedir ajuda?”, relatou o religioso, hoje casado e com quatro filhos. Alves disse ter procurado a igreja porque, segundo ele, é difícil conseguir apoio com psicólogos. “A grande maioria dos consultórios psicológicos é uma fábrica de homossexuais, a pessoa não tem apoio. Dizem que você tem que sair do armário. Aquilo que é certo se torna errado. E hoje a sociedade LGBT vai contra as pessoas que querem deixar a prática homossexual. Eu tenho direito de deixar a pratica homossexual”, disse.

Também pastor, Arlei Lopes Batista disse que a confusão com a sexualidade começou já no útero. Sua mãe queria uma menina. “E os psicólogos sabem que a criança que está no ventre já sofre influências”, disse. Até os 3 anos, relatou, foi vestido como uma menina. Ele disse também ter sido abusado aos 7, o que durou três anos. “Nossa nação não permitem ajuda psicológica. Alguém me ajudou a tratar os gatilhos que me levaram à homossexualidade”, disse.

O pastor conferencista Joide Miranda mostrou um pôster da época em que era travesti. Ele disse ter sido ajudado por uma psicóloga em 1991 para tomar a decisão de retirar os 4,5 litros de silicone que tinha no corpo. “Posso provar que ninguém nasce homossexual, que é uma conduta aprendida e que ela pode ser desaprendida”, afirmou. Para a psicóloga Marisa Lobo, os ex-gays são duplamente discriminados na sociedade. “Quando eram homossexuais, a família não os aceitava e hoje são discriminados porque ninguém os aceita”, disse.

Presente na audiência, o vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério de Oliveira Silva, lembrou que uma resolução de 1999 definiu que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio, e estabelece normas de atuação. “Não cabe ao psicólogo conduzir o tratamento de algo que não é considerado uma doença”, disse.

Deputados criticam ausência de colegas Integrantes da bancada evangélica e da bala criticaram a ausência dos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ) e Érika Kokay (PT-DF), defensores dos direitos LGBT. A reunião foi presidida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que evitou interferir no debate. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) chegou a pedir que Pimenta deixasse a presidência da audiência pela simpatia com grupos LGBT.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

SEM TABUS: DEIXANDO O HOMOSSEXUALISMO

FREUD EXPLICA COMO SE DÁ A HOMOSSEXUALIDADE MASCULINA

Freud afirma que, na maioria dos casos de homossexualismo masculino, os indivíduos experimentam na primeira infância uma ligação erótica muito intensa com uma mulher, geralmente a mãe, este vínculo fora despertado e encorajado pela ternura constante e intensa por parte desta. Posteriormente a este estágio preliminar, o amor da criança não será mais consciente, sofrendo portanto, repressão.

O sujeito ao reprimir o amor por sua mãe tomará a si mesmo como objeto sexual ao se colocar no lugar dela, num processo decorrente de uma identificação narcísica, arrogando a si mesmo como modelo. Dessa forma, passa procurar outros jovens que se pareçam com ele, e possam amá-lo como a sua mãe o amou. Percebe-se que o narcisismo seria a captação amorosa do sujeito pela própria imagem.

Freud afirma que este processo, na verdade, é um retorno ao auto-erotismo, afinal os homens que o homossexualismo masculino diz amar são na realidade figuras substitutivas que o fazem recordar a si próprio durante a infância. Assim sendo, o sujeito busca encontrar seus objetos de amor segundo o modelo narcísico. (FREUD apud PRETTO) 

PRETTO, Janaína Pereira. A influência do desejo parental nas altas habilidades/superdotação: uma abordagem psicanalítica. Rev. CEFAC [online]. 2010, vol.12, n.5, pp. 859-869. 

Freud S. Leonardo da Vinci, uma lembrança de infância. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago; 1910/1976.