§ De dentro para fora: 'Nenhuma pessoa do meu sexo me quer', 'sou tímido, feio(a), sem graça demais para conquistar alguém', 'não sou digno(a) de uma pessoa do outro sexo', 'não posso ter alguém do sexo oposto', 'sou um hipócrita abominável diante de Deus' e por aí vai...
§ De fora para dentro são títulos ou rótulos: 'enrustido', covarde, tímido, etc. Podem ser pessoas fechadas ou extremamente circunspectas, isto é, que colocam limites muito claros à aproximação alheia, mesmo que pareçam comunicativas e sociáveis.
O conflito dentro destes é terrível: não aceitam compartilhar seu problema com outras pessoas ou sentem-se diferentes (para melhor ou para pior) daqueles que já deram vazão a seus desejos homo-eróticos fisicamente (com em grupos de terapia, nos quais podem criar formas de não se encaixarem). O sentimento de inferioridade chega ao âmbito do 'currículo': o que contar após a recuperação? 'Que testemunho sem graça...', 'ex-quase-gay ?' Fica aqui registrada a crítica a boa parte do povo evangélico, que aprendeu que testemunho 'bom' é aquele cheio de sexo, drogas e rock'nroll (alguns crimes também aumentam o 'ibope'). Este grupo foi motivo de trabalho em uma oficina na XX Conferência de Exodus Internacional, no EUA. O público era o mais aclético possível: desde conselheiros aos pessoalmente interessados e até mesmo um texano que desculpou sua presença dizendo 'é por causa de um amigo meu' e fez entender que ele já havia aprontado de verdade.
Falando mais sério agora, é importante colocar na balança alguns pensamentos comuns:
01) Eu não pequei porque não fiz nada...
02) É melhor fazer para poder ter certeza do que sinto.
03) É mais fácil quem nunca fez se recuperar.
O conceito de fazer é muito mais elástico do que se pensa. Segundo o Novo Testamento o pecado começa na concepção mental do ato. Não quer dizer que o simples fato de sentir atrações ou desejos homoeróticos seja pecado, mas a coisa muda de figura quando o indivíduo começa a cultivar fantasias eróticas inconvenientes, deixando que elas dominem a mente. Aí é pecado mesmo, com ou sem masturbação, que costuma ser o grande fardo de muita gente (e é apenas um sintoma das distorções). Calma, não estou defendendo então que masturbar-se pensando na porta da geladeira está politicamente correto. Isto é assunto para outro dia.
Deus não nos condena pela pecaminosidade (inclinação ao pecado) que existe dentro de cada um de nós -gays, ex-gays, bissexuais, transsexuais, travestis, transgêneros ou héteros- mas não aceita a prática do pecado, seja ele no plano mental ou físico. Diante do falado acima, a proposta 2) também fica completamente rejeitada. Certeza do tipo de atração que sente todos provavelmente têm, seja ela pelo sexo oposto, pelo mesmo sexo, pelos dois ou por nenhum (incluindo outros seres vivos ou objetos).
Fazer só vai complicar mais as coisas, pois pode causar mais dúvidas e até gerar repetição e compulsão ('não foi bom porque não fiz direito, vou tentar de novo'). A discussão do pensamento 3) passa por aí. A ideia pode ser considera meio certa enquanto pensamos que não existem compulsões promíscuas a serem vencidas, não existem relacionamentos a serem rompidos nem o risco de doenças. Mas quem disse que o resto é fácil? Aliás, os 'quase' podem ter mais dificuldade de trabalhar suas questões, pois elas ficam enterradas em valas profundas e de difícil localização.
Todas as pessoas em processo de recuperação passam pela fase em que os desejos ainda existem mas as ações já estão sob controle. É, para do caminho para Canaã, é aquele momento em que o peregrino ainda se lembra do cheiro das panelas de carne do Egito mas não come mais delas.
É o momento de começar a colher e comer do maná de Deus, que vem em forma de afetividade saudável, e relacionamentos abertos, positivos. Ainda há deserto para atravessar, mas não cultivar as lembranças das rejeições de antes mesmo as imaginárias) pode fazer o maná cada dia mais saboroso e farto. Ocupar a mente com bons pensamentos -ideia bíblica, é a melhor forma de manter os maus pensamento afastados. Isto é algo a ser aprendido e praticado com perseverança por todo e qualquer cristão.
(Affonso H. Zuim / 1996 - Viçosa / MG) Fonte